Novo normal: Pessoas e/ou Tecnologia?

Estamos perante “um novo normal”, estamos a “desconfinar”, e, muito lentamente a voltar a uma suposta “normalidade”. Mas, o que encontramos, por enquanto, e acredito que até este vírus circular por aí livremente, é de facto um “novo normal”. Circulamos com receio de um inimigo invisível, temos de usar máscaralavar as mãos e manter o distanciamento físico. Permanecemos muito mais tempo em casa, não só por medo, mas também porque o novo normal, veio acelerar o processo de trabalho remoto. As empresas, em poucas semanas tiveram de se adaptar, e em tempo recorde,  colocaram as pessoas a trabalhar remotamente. 

Agora, que o estado de emergência terminou, e tentamos todos que a economia não morra, e muito conscientes que o seu estado é crítico, e que, infelizmente, se encontra na iminência de entrar nos cuidados intensivos. Temos de reagir! E as empresas estão a tentar fazê-lo, mas este novo normal, não é apenas uma nova palavra, é real! E não podemos fingir que tudo está igual, porque não está, inclusive a nossa saúde mental!

No meio de toda esta mudança forçada, são muitos os desafios que se avizinham, e desengane-se quem acha que tudo vai voltar ao normal. Preparem-se, efectivamente, para um novo normal!

Perante isto, queremos ter certezas, mas elas não existem, gostaríamos de saber como vai ser o futuro, mas tal não é possível. Porém, a solução não pode ser congelar ou fingir que está tudo igual!

Novos modelos de negócio.

Muitas empresas têm vindo a afirmar que vão permanecer em teletrabalho, outras vão tentar voltar ao normal, e muitas outras, ainda não sabem muito bem o que fazer.

Agora, que a fase inicial desta pandemia passou, começa a ser tempo de refletir: primeiro perceber até que ponto este “terramoto” causou estragos: financeiramente, nos clientes, no mercado onde opera, e por último, mas não menos importante, nas suas pessoas. Os líderes, os gestores e os gestores de pessoas devem trabalhar lado a lado e analisar cada uma destas dimensões. 

Focando-me na dimensão pessoas, que é aquela em que me sinto mais à vontade para “opinar”, as empresas têm realmente um trabalho árduo pela frente. Modelos de negócio baseados no presentismo, em que o líder tem as suas pessoas debaixo de olho, não vão ser possíveis se a empresa tiver as suas pessoas a trabalhar remotamente! Novos modelos se impõem, e as empresas têm de pensar em modelos baseados em resultados

Para que tal aconteça, as mentalidades dos líderes têm de mudar, não vai ser possível controlar horários de trabalho, nem tão pouco fazer micromanagement. 

A tecnologia ao serviço das pessoas.

A tecnologia em todo este processo, assume um papel determinante, ferramentas de gestão de processos, ferramentas de comunicação, processos ágeis, analytics. A tecnologia não vai substituir as pessoas, deve isso sim, estar ao serviço das pessoas. Os processos devem ficar simplificados e devem ser ágeis. Mas, neste contexto, e enquanto a tecnologia apoia os processos, e leva a resultados, qual será o papel do líder? A resposta: servir! Com equipas dispersas e fora do seu ângulo de visão, o objetivo vai deixar de ser controlar, mas sim servir. Mas como e porquê?

Equilíbrio precisa-se!

Sou fã do equilíbrio, não sei se será por ser do signo balança, mas a verdade é que é algo que me persegue, quer seja na minha life-work-balance, quer seja, na relação com outras pessoas.

No que se refere ao mundo corporativo, acredito que nesta fase seja determinante. Temos a tendência a generalizar, por exemplo, no que respeita ao tema do momento: trabalho remoto. Ouvimos dizer que este vai ser obrigatório em algumas empresas. E eu pergunto: Será que todas as pessoas que trabalham na sua empresa, estão confortáveis com este modelo de trabalho? Será que faz sentido obrigar o trabalho remoto? Poderá adoptar um modelo misto entre home e office? Só saberá responder a estas questões se fizer a pergunta às pessoas certas: os seus colaboradores. Já perguntou?

Assumindo que vai ter equipas em regime de teletrabalho, e que encontra um modelo de negócios voltado para resultados, as pessoas começam a ser independentes e a liderança vai perder força. Será? Talvez, se o líder for autoritário e se basear no controle e na imposição, para este tipo de líder, acredito que haja cada vez menos espaço. A verdade é que, quem se comporta desta forma, não são os líderes, mas sim os chefes, e esses, tenderão a desaparecer.  Mas, o verdadeiro líder vai ser imprescindível neste processo. Porquê?

O líder servidor!

As pessoas são todas diferentes, existem pessoas que tendencialmente exageram nas horas de trabalho, o trabalho remoto é um perigo, pois a tendência vai ser trabalhar horas intermináveis, e o burnout vai ser um perigo ao qual este tipo de pessoas estão sujeitas. O líder deve acompanhar de perto estas pessoas e ajudar a encontrar equilíbrio. Depois temos os distraídos, pessoas que têm dificuldade em concentrar-se, o líder deverá aqui ter outro tipo de intervenção, e ajudar as pessoas a gerirem o seu tempo, a encontrarem os horários em que são mais produtivas, etc.  Existem ainda os introvertidos, os que guardam tudo para si, e que não têm por hábito verbalizar emoções, o líder aqui tem de assegurar um clima de confiança e a pouco e pouco ajudar a pessoa a verbalizar o que lhe vai na alma, preocupações, dificuldades, ansiedades, medos. 

Em suma, personalidades diferentes exigem abordagens diferentes, pelo que o líder, terá de entender o tipo de pessoas que tem à sua frente e a melhor forma de lidar com elas. Este líder deve trabalhar a sua inteligência emocional pois só dessa forma conseguirá desempenhar esta sua nova função.

Qual o papel do gestor de pessoas?

O gestor de pessoas vai ter um papel preponderante nesta nova realidade, mas para que tal aconteça, deve assumir cada vez mais um papel ativo na estratégia da empresa, e agir em conformidade com essa estratégia. Deverá ainda assumir um papel de moderador entre liderança e pessoas. Um gestor de pessoas pode e deve trabalhar lado a lado com os líderes das equipas, e ajudá-los a desenvolver as suas competências de inteligência emocional. Munido de processos ágeis e de tecnologia que apoia na prossecução de tarefas operacionais, o gestor de pessoas fica liberto para trabalhar no desenvolvimento das pessoas. Os ambientes de trabalho do futuro devem proporcionar boas experiências aos colaboradores. Quer seja remotamente, ou em ambiente de escritório, as culturas devem ser inclusivas, transparentes e devem encontrar um propósito. E esse propósito deve ser sentido pelas pessoas. O gestor de pessoas, deve ser o elo de ligação entre cultura, tecnologia, liderança e propósito.

São muitos os desafios que esta nova normalidade impõe a todos os que integram uma empresa, seja gestão, liderança e colaboradores, todos têm que se reinventar, todos têm que ter a capacidade de aprender, de ganhar a flexibilidade cognitiva que estes novos tempos exigem. 

Humanização, é a palavra de ordem num mundo onde a tecnologia é fundamental, mas a verdade é que podem coexistir, e sem dúvida andar de mãos dadas por um mundo melhor!

Faz sentido para si?