O mundo da gestão de pessoas (GP) está a mudar e neste momento está debaixo de fogo.
A pandemia veio acelerar processos que estavam a começar a ser considerados pelos
líderes. Exemplo disso é o trabalho remoto. Muitas empresas não estavam preparadas, e as
suas lideranças também não.
Tecnicamente, a maioria das empresas refere que não foi assim tão difícil. A questão agora
é como tornar o trabalho remoto uma prática na empresa? Sinceramente, e apesar de eu ter
a certeza que realmente tudo está a mudar, a verdade é que muitas empresas ainda estão
em negação. Porquê? Porque não basta colocar as pessoas a trabalhar em casa, existe
todo um modelo de trabalho que tem de ser alterado.
Tenho falado com alguns líderes, e com gestores de pessoas, que se mostram
preocupados, e qual a maior preocupação? Como vamos controlar as pessoas? Temos
modelos de trabalho baseados no presentismo, as pessoas têm de entrar no escritório às
09H00 e devem sair às 18H00. De preferência e para serem considerados mais
empenhados, não devem nunca sair antes das 18H30, nem que passem parte do dia nas
redes sociais e depois trabalhem após as 18H00. Não é em vão que em Portugal se
trabalha muito, mas se produz pouco.
Agora temos um problema: não faz sentido trabalhar assente neste novo modelo! Mas, será
que estamos a aceitar isso? Pelo que me consta existem empresas a tentar encontrar
software, que exerça esse controlo ao minuto. Não estão no escritório, debaixo dos olhos da
chefia, é uma tragédia!
E pode realmente ser! Sem dúvida!
O que está errado? Presentismo ao invés de resultados!
Mudar este modus operandi não é fácil! E em todo este processo, são as equipas de GP
que estão debaixo de fogo!
Como se controlam pessoas à distância? Será impossível? Qual a solução? a minha
solução não passa de todo, por adquirir um software que continue a alimentar o
presentismo. Eu gostaria de ver os GP preocupados com outras questões, nomeadamente:
- Comunicação
- Transparência
- Confiança
- Formação e Desenvolvimento
Mas, será que o GP e os líderes estão preparados para isto?
Talvez, ainda não estejam, mas devem começar a fazê-lo, e sem mais demora.
Para que tal aconteça, devem ter em mente três questões essenciais:
a) A perspectiva de negócio: Quais os objetivos e o propósito da empresa? O que é
que as lideranças procuram? E isto deve ser comunicado com transparência às
equipas.
b) A perspectiva do colaborador: Quais são as suas aspirações? os seus drivers? O
que é que os colaboradores procuram? Isto deve ser perguntado! É importante as
empresas munirem-se de dados. Portanto o people analytics assumir cada vez
mais importância!
c) A perspectiva externa: O que é que os talentos que procuramos no mercado
procuram? quais os seus drivers? Mais uma vez temos de recorrer a Data!
O gestor de pessoas do futuro tem, efetivamente, que se envolver no negócio. E na minha
opinião isto tem sido um handicap, o GP fecha-se no seu departamento, com uma visão
muito micro, na maioria das vezes desfasada da visão de negócio da empresa. Prova disso,
é que não costuma fazer parte das decisões estratégicas.
É importante que o GP do futuro fale uma linguagem mais estratégica, alinhada aos
negócios. E, tendo em conta o objetivo e propósito da empresa, deve alinhar, desenvolver e
captar as pessoas certas.
As primeiras perguntas que deve fazer?
- Tenho as pessoas certas para atingir estes objetivos?
- Se não, posso desenvolvê-las?
- Preciso de ir ao mercado?
- Tenho as ferramentas certas, para conseguir ter tempo para a estratégia, e agilizar a
parte operacional?
Com equipas agora a trabalharem à distância, é importante que a tecnologia facilite as
questões mais burocráticas e por outro lado, é importante que essa mesma tecnologia vá
ajudando na recolha de informação credível, que permita ir ajustando os processos às
pessoas. Neste contexto, a IA não tem de ser um inimigo mas um aliado do GP.
O GP tem de ter tempo disponível para o que realmente interessa: as pessoas, que devem
estar sempre alinhadas aos negócios.
É uma tarefa fácil? De todo! Cada vez mais é preciso que o GP do futuro seja um ser
consciente, colaborativo, e humano. É muito importante que se desligue das fórmulas
perfeitas e que aprenda a olhar para o seu contexto e desenvolver as estratégias
adequadas. Num mundo em que tendencialmente, todos somos influenciados por opiniões
externas, não é fácil despirmo-nos dessas influências, e mergulharmos na realidade e no
contexto em que nos encontramos. E o GP tem de conseguir ler as suas pessoas, o seu
contexto, a sua realidade. Basear-se portanto em factos e nunca em suposições: Não deve
“achar que” deve perguntar!
A título de exemplo, tenho falado com centenas de pessoas, e as opiniões quanto ao
trabalho remoto dividem-se, alguns adoram, enquanto outros odeiam, outros ainda
gostavam de ter um modelo híbrido de trabalho (para mim a melhor solução). Portanto, não
nos basta decidir que agora vamos todos trabalhar a partir de casa e está tudo bem.
Esta individualização, é o que torna as empresas humanas. Mas, obviamente dá muito
trabalho.
Voltando, ao modelo de trabalho focado em resultados, e à questão: como controlo pessoas
à distância? Focando-me agora na terceira e quarta questão: confiança, formação e
desenvolvimento.
Bem, no que toca à confiança, a transparência e a comunicação, quando bem feitas,
ajudam imenso. Ou seja, a empresa tem de ser muito clara quanto ao que espera do
colaborador e tem de o comunicar de uma forma muito transparente. E por seu lado o
colaborador terá de manifestar também de forma clara e inequívoca as suas expectativas.
Desta forma a confiança constrói-se, e com confiança qualquer relação tem potencial para
ser bem sucedida. Nenhuma relação resiste à desconfiança.
Muitas vezes, nesta “troca de expectativas”, a formação e o desenvolvimento podem ocupar
um lugar de destaque. Aliás, nos tempos que correm é impensável que não se aprenda
diariamente. Só dessa forma se podem responder às necessidades em permanente
mudança de um mundo Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo (VICA).
O futuro é agora, tenho a certeza que vêm aí meses muito difíceis, e sei que muitos ficarão
sem trabalho, muitas empresas vão cair. Mas, estou muito otimista, pois sei que as
melhores empresas vão sair disto ainda mais fortes, e sei que o mercado vai a médio prazo,
acolher os melhores profissionais, pois as empresas vão precisar dos melhores para dar a
volta a esta crise.
Faz sentido para si?